POR WERNER GEORG KÜMMEL
INTRODUÇÃO.
O capítulo 7 de Romanos tem sido uma das partes mais controversas do Novo Testamento desde os tempos antigos. O fato de conter uma descrição à qual o leitor pode adicionar experiências relacionadas tem levado repetidamente o texto a ser examinado quanto ao seu conteúdo. Um interesse dogmático logo se seguiu: o capítulo tornou-se evidência a favor ou contra a visão de que a moralidade relativa também existe fora do cristianismo. Por outro lado, os reformadores encontraram sua convicção fundacional do cristão como “simul iustus et simul peccator” confirmada neste capítulo, enquanto o pietismo via um perigo moral na afirmação de “non posse non peccare“. Portanto, a questão de saber se o cristão ou o não cristão está sendo retratado tem sido discutida repetidamente, sem que um lado seja realmente capaz de convencer o outro.
Com o recente debate acadêmico, dois aspectos adicionais foram acrescentados a essa controvérsia de longa data, atraindo interesse. Primeiro, Romanos 7 desempenhou um papel decisivo na questão de saber se a visão de Paulo sobre a vida moral cristã era a mesma que a de Lutero, de modo que Lutero jamais poderia afirmar que a explicação de Romanos 7 era relevante para a questão de saber se a alegação da dogmática protestante de ter herdado o legado de Paulo era verdadeira.[1] Isso é certamente um exagero, mas demonstra a importância que uma compreensão correta dessa passagem deve ter tido para toda a compreensão de Paulo. No entanto, outro aspecto se tornou muito mais significativo do que isso. Se isso está correto, e a maioria dos estudiosos concordava com isso, que Romanos 7 não poderia descrever a condição do Paulo cristão, então o capítulo estava fadado a se tornar uma fonte importante para a vida do Paulo pré-cristão; pois não se via outra alternativa senão “Paulo pré-cristão ou cristão”. Mas não se tratava apenas de uma fonte para a experiência pré-cristã de Paulo: muito mais importante para a maioria dos pesquisadores era que isso oferecia uma possibilidade de compreender a conversão de Paulo. Essa explicação se adequava à situação científica em dois aspectos. Primeiro, emergiu que, também para Paulo, a experiência ética e o senso de pecado eram uma pré-condição decisiva para sua experiência religiosa, algo que vinha sendo amplamente considerado como um fato incontestável da vida religiosa desde o Albr. Ritschl. Mas então, com o uso de Romanos 7 para a conversão de Paulo, surgiu a possibilidade de obter uma compreensão psicológica da experiência de conversão. Essa possibilidade foi naturalmente muito bem-vinda para uma perspectiva que se acostumara a aplicar linhas de raciocínio psicológicas em todos os lugares, e tem sido amplamente explorada em todos os aspectos.
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