O ARMINIANISMO E A QUESTÃO DO MÉRITO

 

Por Paulo Cesar Antunes

Não são poucos aqueles que alegam que o Arminianismo faz a salvação não ser uma obra puramente da graça. Ainda que Arminius tenha respondido esta questão de forma satisfatória, muitos calvinistas não estão convencidos.

Para responder, a primeira coisa que precisamos entender é: quando se caracteriza o mérito? Mérito há quando alguma pessoa faz algo por merecer, passando a ser digna de alguma recompensa. Se um empregado trabalha durante um mês, seu salário é uma questão de direito. Ele fez por merecer. Por outro lado, se esse mesmo empregado faltou ao trabalho sem justo motivo durante todo o mês, ele não teria o que reivindicar. Ele não fez nada por merecer. Caso seu patrão ainda assim lhe pague é por pura generosidade.

Um pecador se encontra numa situação parecida com a desse relapso empregado. Ele não tem o que reclamar a Deus. Deus não lhe deve nada. Se, mesmo assim, por pura generosidade e misericórdia, Deus lhe concede salvação, este pecador continua sem mérito algum, ainda mais quando levamos em consideração que ele é salvo através dos méritos da morte de Cristo. Cristo sofreu em seu lugar. Ele não sofreu nem sofrerá a pena por nenhum de seus pecados. No entanto, o pecador precisa crer no sacrifício de Cristo. Só assim ele obtém os benefícios de Sua morte. É exatamente neste ponto que levantam contra o Arminianismo a acusação de mérito, pois se a fé verdadeiramente precede a regeneração, e a fé é algo que o pecador precisa ter e não que Deus irresistivelmente a dá, segue-se que crer torna o pecador merecedor da salvação.

Essa objeção não procede por algumas razões. Primeiro, porque merecedor o pecador somente seria se fosse salvo pelas obras, e a Bíblia deixa nítido o contraste entre fé e obras:

Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé (Rm 3.27).

Segundo, porque a fé não é algo que o pecador faz para merecer a salvação mas para recebê-la. E é completamente ilógico afirmar que uma pessoa indigna ganhe crédito por aceitar um presente doado liberalmente. Aceitar um presente não transforma alguém indigno em digno de recebê-lo. Se assim fosse, esse presente deixaria de ser o que é, uma doação generosa, e passaria a ser uma dívida. Pois, admitir esta hipótese é chegar à conclusão absurda de que seria impossível doar um presente a alguém que não o merece, porque, logo que esse alguém o aceitasse, passaria a ser merecedor dele.

Terceiro, porque o que acompanha a fé salvadora é justamente o reconhecimento de falta de mérito. Quando um pecador se lança aos pés de Jesus, ele está reconhecendo justamente sua total incapacidade de salvar a si próprio. Ele deposita sua confiança, não em seus próprios esforços, mas na obra expiatória de Cristo. Dizer que alguém tem méritos por reconhecer sua falta de méritos é tão absurdo quando afirmar que alguém é forte por reconhecer sua fraqueza.

Na melhor das hipóteses os calvinistas concordariam perfeitamente com o que foi dito, mas o que eles alegam é que, se de si próprio o homem gerar algo que o beneficie em sua própria salvação, a salvação deixa de ser totalmente pela graça de Deus. Mas o Arminianismo não ensina que a fé é gerada pelo homem. É, da mesma forma que no Calvinismo, uma obra da graça. A diferença apenas é que, o Calvinismo vê a fé como um dom incondicional e irresistível àquele que foi eleito, enquanto o Arminianismo ensina que a fé é um dom no sentido que a fé não seria possível sem o auxílio da graça. Na concepção arminiana, o Espírito Santo trabalha no coração do pecador, não tornando a fé necessária, mas possível. Isto quer dizer que o homem tem liberdade para aceitar ou rejeitar a graça que lhe é oferecida. Deus concede fé salvadora àqueles que se mostram receptivos à Sua graça.

Os calvinistas objetam que, se for assim, então o homem tem verdadeiramente uma parte em sua salvação, tornando-a uma obra conjunta entre Deus e o homem. É necessário ressaltar que a fé não é a parte do homem na salvação, mas o meio pelo qual ele a recebe. Não é que o homem faz uma parte e Deus faz o resto. A fé é justamente a confiança que Deus fará tudo (não somente uma parte) o que for necessário para a sua salvação. Como o calvinista J. Gresham Machen acertadamente coloca:

A fé do ser humano, corretamente concebida, não pode nunca permanecer em oposição à plenitude com a qual a salvação depende de Deus: nunca pode significar que o ser humano faz uma parte enquanto Deus apenas faz o resto, pela simples razão de que a fé não consiste em fazer alguma coisa mas em receber alguma coisa.[1]

Mas ainda assim os calvinistas querem saber dos arminianos: se a salvação é inteiramente pela graça, por que uma pessoa crê e outra não? Ou, como Sproul sarcasticamente coloca, “Por que você reconheceu sua desesperada necessidade de Cristo, enquanto seu vizinho não o fez? Foi porque você era mais justo que seu vizinho, ou mais inteligente?”[2] Sproul está insinuando que, no Arminianismo, o que diferencia um crente de um incrédulo não é a graça de Deus mas a vontade do homem. Esta objeção é um tanto capciosa, e, para respondê-la, alguns esclarecimentos são necessários.

O homem é uma pessoa, criado à imagem e semelhança de Deus. Dessa forma Deus o trata, como pessoa. Numa relação pessoal você influencia e espera ser correspondido. A decisão de corresponder ou não tem que estar em poder da pessoa que está sendo influenciada, não da que influenciou. Não é inteligente nem gratificante causar amor em outra pessoa. Ainda que Deus detenha esse poder, usá-lo seria esvaziar o amor de sua beleza. Amor é conquistado, não causado. Amor irresistivelmente causado é uma ilusão.

O Calvinismo enxerga a relação entre Deus e o homem de uma outra forma. Sproul, por exemplo, nos explica como Deus produz fé no homem:

Para receber o dom da fé, de acordo com o calvinismo, o pecador também deve estender a sua mão. Mas ele assim o faz apenas porque Deus mudou a disposição do seu coração para que ele mais certamente deseje estender a sua mão. Pela obra irresistível da graça, ele nada fará a não ser estender a sua mão. Não que ele não pudesse reter a sua mão mesmo se não quisesse, mas ele não pode não querer estender a sua mão.[3]

Ou seja, Deus causa fé no homem, o homem não tem outra escolha a não ser crer. Isso é um tanto estranho para uma relação pessoal. Schaff deve ter percebido esta implicação quando disse que “ninguém é salvo mecanicamente ou pela força.”[4] Não é que os calvinistas concebem que o homem se relaciona com Deus como uma máquina, mas apenas que a resposta do homem é o efeito inevitável da causação divina.

Então, respondendo a pergunta „por que uma pessoa crê e outra não?‟, respondemos que Deus, como Ser pessoal, quis relacionar-se com Suas criaturas como seres pessoais, de forma recíproca.

Mas esta resposta ainda não satisfaz. Os calvinistas ainda querem saber: “Se todos recebem uma medida suficiente da graça de Deus para ser salvos, e alguns não se salvam, o que diferenciou um salvo de um não salvo? Não pode ter sido a graça de Deus, visto que todos a receberam.”

Esta objeção parece desprezar um ponto fundamental da teologia arminiana. Ora, se Deus nos deu real liberdade de escolha, obviamente nossa escolha será decisiva em nossa salvação. Não seremos salvos pela nossa escolha, mas sem nossa escolha não seremos salvos de forma alguma.

Mas a objeção é capciosa por dois motivos. Primeiro, ela coloca ênfase demais na resposta do homem, fazendo-a parecer o fator preponderante na salvação. A resposta do homem é um fator importante mas não preponderante. Ela, por exemplo, teria alguma utilidade se Deus não a considerasse relevante? Obviamente, se colocarmos ênfase demais em um fator (seja a resposta do homem, seja a morte de Cristo, seja o convencimento do Espírito Santo), e desprezarmos os outros, somos levados a crer que aquele é o fator preponderante, quando, na verdade, não o é. O fato é que existem vários fatores envolvidos na salvação, sendo a resposta do homem apenas um deles, mas a base da nossa salvação não é outra coisa senão a justiça de Cristo imputada ao crente, e esta obra é de Deus apenas. Por mais objeção que o calvinista levante, a base da salvação no Arminianismo continua a mesma: a justiça de Cristo. E isso nos dá todo o direito de creditar toda a nossa salvação a Deus. A fé não é a base mas a condição da salvação. Se os calvinistas fizessem esta distinção, teriam poupado os arminianos de mais esta acusação.

O que, também, eles não levam em consideração quando fazem esta objeção é que a fonte de todos os fatores envolvidos na salvação é a graça de Deus. Dela flui tudo o que nos é necessário, inclusive a concessão graciosa de decidirmos juntamente com Ele o nosso destino eterno.

E o segundo motivo dessa objeção ser capciosa é que, se não for assim, teríamos que adotar a desagradável seleção arbitrária, da qual estamos justamente querendo fugir.

_____________

[1] J. Gresham Machen, citado em J. I. Packer, Fundamentalism and the Word of God, p. 172.
[2] R. C. Sproul, Eleitos de Deus, p. 93.
[3] R. C. Sproul, Sola Gratia, p. 147.
[4] Philip Schaff, History of the Christian Church, Livro 3, Capítulo XIV, § 114.

Paulo Cesar Antunes
Site: http://www.arminianismo.com/

1Jo 2.19

Por Paulo Cesar Antunes –

“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.”

Este texto é muito parecido com o de 1Co 11.19 (“E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós”).

Aqueles que defendem a impossibilidade de apostasia final usam este verso para tentar provar que todos aqueles que abandonam a comunhão dos cristãos nunca foram, na verdade, crentes verdadeiros. Se fossem, teriam permanecido entre eles. Não irei fazer aqui uma defesa da apostasia final. Outros versos podem prová-la.

John Gill acredita que esta passagem foi usada para que “não se forneça nenhum argumento contra a perseverança dos santos.”[1] Quero tanto mostrar que não foi esta a intenção do apóstolo como provar que este verso não fornece nenhum argumento a favor da perseverança dos santos.

Apresentarei, em primeiro lugar, o entendimento calvinista comum deste verso, e então passarei a mostrar por que ele não é justificável.

Citarei apenas Albert Barnes, considerando que ele conseguiu extrair em um único comentário praticamente todo o entendimento calvinista do verso. Ele diz que “esta passagem prova que estas pessoas, quaisquer que tenham sido suas pretensões e profissões, nunca foram cristãos sinceros. A mesma observação pode ser feita de todos que se apostatam da fé, e se tornam professores do erro. Eles nunca foram verdadeiramente convertidos; nunca pertenceram realmente à igreja espiritual de Cristo.” Falando especificamente da frase “se fossem de nós, ficariam conosco,” ele conclui que “não poderia haver uma afirmação mais positiva do que essa que está contida aqui, que aqueles que são verdadeiros cristãos continuarão a ser como tais; ou que os santos não decairão da graça.”[2]

Antes de avaliar estas afirmações, é necessário que se diga que as versões não concordam entre si quanto ao texto “não são todos de nós.” Em lugar de “são” algumas versões trazem “eram,” e a palavra “todos” não é encontrada em algumas delas (a versão siríaca, por exemplo). Se a versão correta for “não eram todos de nós,” então, como observam Jamieson, Fausset e Brown, “esta tradução significaria que alguns dos anticristos são de nós.”[3] Adam Clarke chega até a sugerir que “estes falsos mestres provavelmente afastaram muitas almas sinceras com eles; e é provável que o apóstolo alude a isto quando diz, não eram TODOS de nós. Alguns eram; outros não eram.”[4] De qualquer forma, nenhuma versão diz que “eles nunca foram de nós,” o que decidiria toda a questão. Da forma como está, pode ser entendido perfeitamente que, em algum momento anterior não especificado, “eles não eram de nós.” Se ou não alguma vez foram, o apóstolo não nos diz. Sua apostasia demonstrou que não eram de nós, não que eles nunca foram verdadeiramente convertidos. Pode até ser que foram, dada a linguagem do apóstolo, que fala do diabo como aquele que “peca desde o princípio” (1Jo 3.8), o que certamente não significa que o diabo peca desde o princípio de sua existência. Em algum momento o diabo se apostatou, e por isso pode ser dito que ele peca desde o princípio (de sua apostasia). A sua apostasia demonstrou que o diabo não era um verdadeiro servo de Deus, senão ele teria permanecido entre os servos de Deus, mas isto está longe de provar que o diabo nunca foi um verdadeiro servo de Deus.

Mas aqueles que defendem a possibilidade de apostasia final não necessitam recorrer à gramática e incerteza das versões. Uma leitura cuidadosa do texto pode demonstrar que nele não há nenhuma indicação de que aqueles que saíram da comunhão dos crentes nunca foram verdadeiramente convertidos. A primeira coisa que devemos fazer é perguntar: De quem o apóstolo está falando? Ele está falando de “anticristos” (1Jo 2.18), não de todas as pessoas de todas as épocas que abandonam a comunhão dos cristãos. Barnes reconhece que João está falando daquelas pessoas, mas acrescenta que o texto pode ser considerado como uma verdade universal. E é aqui exatamente onde os calvinistas se enganam. É uma falácia muito bem conhecida dizer que, o que é verdade em alguns casos, deve ser verdade em todos. Esta única consideração é suficiente para provar que este verso não favorece a doutrina da perseverança dos santos.

[1] John Gill, Exposition of the Entire Bible, comentários sobre 1Jo 2.19.
[2] Albert Barnes, Notes on the Bible, comentários sobre 1Jo 2.19.
[3] Jamieson, Fausset e Brown, Commentary, comentários sobre 1Jo 2.19,
[4] Adam Clarke, Commentary on the Bible, comentários sobre 1Jo 2.19.

O Calvinismo Evangélico é compatível com a Livre Oferta do Evangelho?

Por Paulo Cesar Antunes
O Calvinismo Evangélico defende a Livre Oferta do Evangelho para todos, eleitos e não eleitos, ao mesmo tempo em que defende a Eleição, Expiação e Graça limitadas aos eleitos.
À primeira vista, parece difícil, senão impossível, harmonizar essas crenças. Por exemplo, se Deus não fez provisão para a salvação dos não eleitos, como pode haver uma oferta sincera de salvação para eles?
O calvinista, no entanto, acredita que é possível harmonizá-las. Ele responde que Deus oferece salvação a todos, eleitos e não eleitos, sob a condição de que eles creiam, e caso fizerem exatamente isso, é certo que Deus efetuará a sua salvação. Ele conclui, então, que a oferta de salvação é sincera.
Um novo problema surge de imediato. Os não eleitos são incapazes de crer, e não parece haver sinceridade numa oferta que requer uma ação de alguém que está impossibilitado de executá-la.
Seria zombaria de minha parte se eu oferecesse um copo de água a um paralítico sedento sob a condição de que ele venha andando pegá-lo.
Mas tal problema tem solução. Como o ser humano causou a sua própria incapacidade, não é nenhuma zombaria exigir o que ele deve [mas é incapaz de] fazer.
O grande problema, na verdade, é outro. Estamos vivendo sob a graça e a salvação é oferecida nesta base.
Se Deus está oferecendo salvação aos não eleitos sob a condição de que eles creiam, e eles devem fazer isso sem qualquer auxílio da graça de Deus, isso já não é mais salvação pela graça, mas significaria, no final das contas, que Deus está oferecendo salvação parcialmente pelas obras aos não eleitos. O Evangelho não ensina isso.
O calvinista responde que ao não eleito é concedida graça comum, e se ele fizer bom uso dessa graça, Deus irá conceder graça especial também.
Mas visto que Deus não tem pretensões salvíficas na concessão da graça comum, essa resposta não ajuda em nada. Permanece o fato que os não eleitos devem fazer sua parte para só então Deus fazer a sua.
Isso é Semipelagianismo.
Portanto, a conclusão só pode ser que o Calvinismo Evangélico é incompatível com a Livre Oferta do Evangelho.

POR QUE A FÉ PRECEDE A REGENERAÇÃO?

por Paulo Cesar Antunes

– EM PRIMEIRO LUGAR, as Escrituras afirmam que a fé precede a regeneração (Is 55.3; Jo 3.1-16; Jo 5.25, 40; Jo 20.31; Rm 5.18; Cl 2.12, 13).

– EM SEGUNDO LUGAR, para dar início a uma obra em nós (regeneração), Deus precisa fazer uma obra fora de nós (justificação). A justificação, portanto, deve preceder a regeneração, e como a justificação é pela fé, a fé precede a regeneração.

– EM TERCEIRO LUGAR, visto que a nossa sentença de morte é devida ao pecado, essa sentença deve ser colocada de lado antes que possamos desfrutar de uma nova vida. Alguém ainda sob condenação não pode logicamente vir a desfrutar de uma nova vida. Em outras palavras, Deus não pode regenerar uma pessoa enquanto uma sentença de morte pesa sobre ela. Para que ela possa desfrutar de uma nova vida, é preciso haver uma liberação de sua pena, ou seja, a pessoa precisa ser justificada de seus pecados. Portanto, a justificação, e a fé, precedem a regeneração.

– EM QUARTO LUGAR, a fé é o meio pelo qual nós nos apropriamos dos benefícios da morte de Cristo, e visto que a regeneração é um benefício da morte de Cristo, a fé deve preceder a regeneração. O raciocínio é simples e lógico:

1. A fé é o meio pelo qual nós nos apropriamos dos benefícios da morte de Cristo.
2. A regeneração é um benefício da morte de Cristo.
3. Logo, a fé é o meio pelo qual nós nos apropriamos da regeneração.

– EM QUINTO LUGAR, a Bíblia é enfática que a fé precede a salvação. Por exemplo, Paulo diz em Atos 16.31, “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” E sendo a regeneração um componente da salvação, a fé precede a regeneração. Novamente, o raciocínio é simples e lógico:

1. A fé precede a salvação.
2. A regeneração é parte integrante da salvação.
3. Logo, a fé precede a regeneração.

– EM SEXTO LUGAR, a santificação está baseada na justificação e tem início na regeneração. O calvinista Louis Berkhof afirma, em sua Teologia Sistemática, que “a justificação precede à santificação e lhe é básica” e que “a regeneração é o princípio da santificação” (3ª ed., 1994, p. 540). Se colocarmos tudo isso em ordem, veremos claramente que a justificação precede a regeneração. Portanto, a fé precede a regeneração.

GRAÇA PREVENIENTE – UMA PERSPECTIVA WESLEYANA

Leo G. Cox PH.D*

O ponto comum sobre o qual nós, como teólogos evangélicos, estamos é importante e a discussão na área de nossas concordâncias é de grande valor. Embora concordemos que a Palavra de Deus é incontestavelmente verdadeira, nossas mentes falíveis frequentemente pegam caminhos divergentes em suas tentativas de entender isso. A comunhão cristã, então, baseia-se mais no amor e na compreensão do que em uma completa concordância em todas as doutrinas.

A discussão ocasional de algumas de nossas diferenças também é útil na medida em que recebemos uma melhor compreensão mútua. Para conhecer e apreciar a visão de outro, mesmo quando não concordamos com isso, construímos amor e comunhão cristã no Espírito. É por esta razão que este documento sobre graça preveniente foi preparado. Espera-se que este esforço tornará mais compreensível uma das ênfases distintas nos círculos wesleyanos.

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Uma pessoa salva pode se perder? (à luz da igreja primitiva)

 

Como os cristãos primitivos acreditavam que fé e obediência contínuas são necessárias para a salvação, é natural que eles acreditassem que uma pessoa “salva” ainda poderia acabar se perdendo. Por exemplo, Irineu, discípulo de Policarpo, escreveu:

Jesus não vai morrer outra vez por aqueles que ainda pecam, pois a morte não terá mais domínio sobre ele… Portanto não devemos nos orgulhar…Mas temos que tomar cuidado, pois de alguma forma, depois que conhecemos a Cristo, se continuamos fazendo coisas que desagradam a Deus, não obtemos mais o perdão dos nossos pecados, mas, em vez disso somos excluídos de seu reino (leia Hebreus 6:4-6).22

E Tertuliano escreveu:

Algumas pessoas agem como se Deus tivesse a obrigação  de dar seu dom até aos indignos. Transformam sua generosidade em escravidão… Afinal, muitos não acabam perdendo a graça de Deus? Este dom preciso não é retirado de muitos?23

Cipriano disse  aos seus companheiros:

Está escrito: ‘Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo’ (Mateus 10:22). Assim, o que quer que anteceda o fim é apenas um degrau para chegarmos ao topo da salvação. Aqui não é a linha de chegada, em que já ganhamos o premio da escalada. 24

Uma das passagens bíblicas mais citadas pelo cristão primitivo era Hebreus 10:26, que diz:”Porque, se vivermos deliberadamente  em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados”. Geralmente nos  dizem que nesta passagem o autor de Hebreus não estava se referindo aos salvos. Se for o caso, o escritor não conseguiu se fazer entender aos seus leitores, pois todos  os cristão primitivos entendiam que esta passagem estava se referindo às pessoas salvas.

Talvez algumas das citações dos cristãos primitivos levem você a pensar que eles viviam em  constante insegurança. Mas isso não é verdade. Embora acreditassem que Deus poderia deserdá-los se assim o quisesse, seus escritos geralmente mostram que os cristãos obedientes não viviam com um medo constante de que fossem deserdados.  Um filho obediente vive  sempre com medo de que  seu pai terrestre o deserde?

22- Irineu. Contra Heresias, Livro 4, capitulo 27, seção 2

23- Tertuliano. A penitencia, capitulo 6.

24- Cipriano. Sobre a Unidade da Igreja, seção 21

Fonte:  Que falem os primeiros Cristãos. Pgs.72-73, David W. Bercot

 

 

Brian Abasciano, “abordando o desafio calvinista”, por que você crê e seu próximo não? “

Para muitos calvinistas, o melhor argumento a favor do calvinismo e contra o arminianismo pode ser implicitamente transmitido por questões como: “Qual a diferença entre quem crê em Cristo e aquele que rejeita Cristo? Por que alguém crê e o outro não? Não deve ser que exista algo melhor sobre aquele que crê que o leve a crer? “O cerne deste  questionamento é que deve haver algo melhor naquele que crê do que naquele que não crê, produzindo a fé e a salvação sobre a bondade do homem, em vez da graça de Deus, dando ao crente um fundamento para se gabar e dando a glória pela salvação do crente em vez de Deus.

Amo a questão, porque destaca tão bem a diferença entre o arminianismo e o calvinismo, revelando o arminianismo como a posição mais bíblica e racional. Confiar em outro não dá glória ao crente e toda a glória para o confiável. A fé é a renúncia de qualquer mérito, mas é a confiança em Deus e seu favor imerecido. Assim, a fé é o veículo perfeito através do qual Deus poderia ter uma base justa para a responsabilidade e, no entanto, não há mérito na base da responsabilidade. O Arminiano não precisa fugir do fato de que há realmente uma diferença entre o crente e o incrédulo que leva à salvação versus a condenação. Devemos abraçá-lo. Isso é o que torna a salvação dos crentes ser de Deus e a condenação dos incrédulos não arbitrária. Esse é ponto que queremos reivindicar contra a visão de que Deus salva incondicionalmente. É o meio não meritório da fé através da qual somos salvos. Marque bem: a questão de qual a diferença entre quem tem fé e quem não tem é simplesmente aquele que confia em Deus e o que não o faz. É por isso que Deus salva um e condena  outro, por sua própria vontade e graça soberana. Ele não é obrigado, mas por um favor imerecido, considera a fé como justiça. E isso prevê uma base não arbitrária de salvação não meritória e condenação meritória, de modo que toda a glória é de Deus pela salvação e toda a culpa vai para homem por sua própria condenação. Deus é tão sábio.

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A Visão Reformada da Regeneração versus a Teologia Wesleyana da Graça Preveniente.

Ben Witherington

Recentemente um cristão da Indonésia que me escreveu com perguntas sobre a fé, de vez em quando me pergunta sobre a teologia reformada da regeneração. Basicamente, é assim: você não pode ter fé ou responder ao Evangelho, a menos que Deus já o tenha regenerado para que você possa fazê-lo, e você não será regenerado a menos que Deus o tenha escolhido para estar em primeiro Lugar. Caso contrário, você é um sem esperança. Está tudo nas mãos de Deus.

Agora, há uma variedade de problemas sérios com toda essa abordagem teológica para a salvação, não menos importante: 1) a regeneração está associada ao que acontece no novo nascimento, na conversão no NT, e não o que acontece antes disso. Na verdade, irei até dizer que não há um único versículo no NT que apoie a noção de que você deve ser regenerado antes de receber o novo nascimento pela graça através da fé; 2) toda essa abordagem assume uma teologia não bíblica da graça, a saber, que a graça sempre e em todos os lugares é irresistível. Atua como um ímã em um carregamento de ferro – “resistência é inútil”; 3) também assume que Deus tem arranjado que todo esse acordo fosse planejado e predestinado antecipadamente, e se você não estiver entre os eleitos, bem … Você está sem sorte; 4) há, além disso, outro conceito mais amplo que acompanha o chamado dos “eleitos invisíveis” entre a massa de ouvintes da igreja. A ideia é que outros não podem saber quem está entre os eleitos, embora os eleitos possam ter garantia em seus corações da salvação. A coisa peculiar sobre isso é que Paulo está certo de que ele pode dizer a diferença entre os salvos e os perdidos ao seu público. Na verdade, ele fala sobre alguns que tiveram fé cristã e depois fizeram naufrágio na sua fé salvífica. Você não pode fazer naufrágio de algo que você nunca teve.

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Graça Preveniente por Orton Wiley

Antes de abordar a discussão da graça preveniente, pode ser bom chamar a atenção para o fato de que a graça de Deus é em si mesma infinita e, portanto, não pode ser limitada ao Sua obra redentora, inefavelmente grandiosa, como pode ser. (1) A graça é um fato eterno nas relações internas da Trindade. (2) existiu sob a forma de amor sacrificial antes da fundação do mundo. (3) Estendeu a ordem e a beleza ao processo e ao resultado da criação. (4) Inventou o plano para a restauração do homem pecador. (5) É manifestado especificamente através da religião revelada como o conteúdo da teologia cristã; E, (6) encontrará a sua consumação na regeneração de todas as coisas, das quais o Senhor testificou. A santidade absoluta do Criador determina a natureza da graça divina. Suas leis sempre operam sob este padrão. Uma vez compreendido e mantido esta concepção da infinidade da graça divina, e os atos reais e judiciais de Deus na justificação e na adoção nunca podem ser questionados.

A graça preveniente, como o termo implica, é a graça que “precede” ou prepara a alma para entrar no estado inicial de salvação. É preparatória e

Agostinho e os teólogos de sua época distinguiram cinco tipos de graça, como segue: (1) Graça preveniente é a que removeu a incapacidade natural e convida ao arrependimento; (2) Graça Preparatória é a que restringiu a resistência natural e dispôs à vontade para aceitar a salvação pela fé; (3) Graça operacional é a que conferiu o poder de crer e acendeu a fé justificadora; (4) Graça cooperante é a que seguiu a justificação e contribuiu para promover a santificação e boas obras; E (5) Graça conservadora, pela qual a fé e a santidade foram preservadas e confirmadas.

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