“Proeminente entre os Apóstolos”

Richard Bauckham

*uma avaliação ao artigo de Burer e Wallace – Was Junia Really an Apostle?  A Re-examination of Rom 16.7

Nesta frase (ἐν τοῖς ἀποστόλοις), o adjetivo ἐπίσημος significa: “marcado, distinto, destacado, proeminente”.[1] Às vezes, tem sido interpretado como se Andrônico e Júnia fossem bem conhecidos ou bem considerados pelo corpo apostólico, não pertencendo eles próprios a ele, mas muito mais frequentemente tem sido entendido como se fossem membros destacados do corpo apostólico, distinguidos como apóstolos entre os apóstolos. Esta era a visão da maioria dos pais que expressam uma opinião,[2] e também tem sido a visão mais comum entre os comentaristas modernos, endossada pela maioria das traduções modernas.[3] Tem sido frequentemente afirmado que, embora a primeira interpretação seja gramaticalmente possível, a segunda é uma leitura muito mais natural do grego e pode ser considerada “virtualmente certa”.[4] Mas esse consenso foi fortemente contestado em um artigo recente de Michael Burer e Daniel Wallace, que oferecem novas evidências em favor da primeira interpretação. Invertendo o julgamento de outros estudiosos recentes, eles afirmam que a frase “quase certamente significa ‘bem conhecido dos apóstolos’”.[5] Como este artigo se apresenta como bastante conclusivo, terei que me esforçar para mostrar que não o é.

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‘Somente o Deus Sofredor Pode ajudar’: passibilidade divina na teologia moderna

Richard Bauckham

Em 1917, H. M. Relton fez um julgamento que se revelou notavelmente clarividente: ‘Há muitas indicações de que a doutrina do Deus sofredor desempenhará um papel muito proeminente na teologia da era em que vivemos.’[1] A ideia de que Deus não pode sofrer, aceita virtualmente como axiomática na teologia cristã desde os primeiros Pais gregos até o século XIX, foi progressivamente abandonada neste século. Pela primeira vez, a teologia inglesa pode alegar ter sido pioneira em um grande desenvolvimento teológico: de cerca de 1890 em diante, um fluxo constante de teólogos ingleses, cujas abordagens teológicas diferem consideravelmente em outros aspectos, concordaram em defender, com mais ou menos ênfase, uma doutrina do sofrimento divino.[2] Um pico de interesse no assunto é indicado pelo importante estudo de J. K. Mozley, The Impassibility of God (1926), que foi encomendado pela Archbishops’ Doctrine Commission em 1924 e que conta a história do interesse teológico inglês no sofrimento de Deus até 1924.[3] Desde então, um grande número de teólogos ingleses continuaram a tradição.[4]

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Universalismo: uma pesquisa histórica

Por Richard Bauckham

A história da doutrina da salvação universal (ou apokastastasis) é notável. Até o século XIX, quase todos os teólogos cristãos ensinavam a realidade do tormento eterno no inferno. Aqui e ali, fora da corrente principal teológica, havia alguns que acreditavam que os ímpios seriam finalmente aniquilados (em sua forma mais comum, esta é a doutrina da “imortalidade condicional”).[1] Menos ainda eram os defensores da salvação universal, embora esses poucos incluíssem alguns dos principais teólogos da igreja primitiva. A punição eterna era firmemente afirmada em credos e confissões oficiais das igrejas.[2] Deve ter parecido uma parte tão indispensável da crença cristã universal quanto as doutrinas da Trindade e da encarnação. Desde 1800, essa situação mudou completamente, e nenhuma doutrina cristã tradicional foi tão amplamente abandonada quanto a da punição eterna.[3] Seus defensores entre os teólogos hoje devem ser menos do que nunca. A interpretação alternativa do inferno como aniquilação parece ter prevalecido até mesmo entre muitos dos teólogos mais conservadores.[4] Entre os menos conservadores, a salvação universal, seja como esperança ou como dogma, é agora tão amplamente aceita que muitos teólogos a assumem virtualmente sem argumentação.

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