Andrew C. Perriman

Expulsão de Adão e Eva (Alexandre Cabanel)
Resumo
1 Timóteo 2:12, por razões óbvias, tem sofrido considerável impacto acadêmico nos últimos anos. Investigações lexicológicas cuidadosas minaram a interpretação tradicional de αὐθεντέω como “ter autoridade sobre” e trouxeram à luz várias nuances de significado, sem, no entanto, demonstrar claramente sua relevância para a passagem. Pesquisas aprofundadas sobre o ambiente religioso de Éfeso também sugeriram perspectivas alternativas, mas novamente com validade exegética duvidosa. O argumento deste artigo é que, se for dada mais atenção ao caráter estrutural e figurado da passagem, surge uma leitura que leva em conta tanto o sentido próprio de quanto as circunstâncias particulares em que a injunção de Paulo foi dada.
No debate sobre a posição das mulheres na igreja, um dos problemas exegéticos mais difíceis de decifrar tem sido o significado de αὐθεντέω em 1 Timóteo 2:12, onde Paulo diz que não permite que uma mulher ensine, ou seja, οὐδὲ αὐθεντέω ἀνδρὸς. Uma quantidade considerável de esforço e conhecimento técnico foi investida na tarefa de reunir e analisar as evidências lexicológicas disponíveis, mas os resultados foram inconclusivos. A interpretação tradicional, “ter autoridade sobre”, foi questionada, mas nenhuma das alternativas propostas se mostrou inteiramente convincente. Essa falha, eu sugeriria, é atribuível a dois descuidos específicos, um lexicológico e outro relacionado ao caráter literário da passagem. Uma vez corrigidos, torna-se possível dar uma explicação bastante precisa do motivo pelo qual Paulo usou essa palavra neste ponto e, com isso, determinar o escopo de sua aplicação.
I. A Estrutura Literária dos versos 11-15
Para compreender o desenvolvimento do pensamento em 11-15, sugiro que observemos duas características estruturais importantes, mas até então ignoradas. A primeira é o caráter parentético de 12. Gramaticalmente, o versículo é desajeitado e elíptico: ἐπιτρέπω, por exemplo, não é o antecedente governante adequado para εἶναι ἐν ἡσυχίᾳ, que requer algo como pαρακαλῶ ou Βούλομαι (cf. 1, 8). Tampouco decorre naturalmente de 11, particularmente com a mudança do imperativo (μανθανέτω) para o indicativo (ἐπιτρέπω). A posição enfática de διδάσκειν pode apontar na mesma direção;[1] e a repetição de “ἐν ἡσυχίᾳ” também seria mais facilmente explicada se o versículo fosse algo como uma reflexão tardia, uma interpolação construída às pressas. Mais significativo, no entanto, é o fato de que a discussão sobre Adão e Eva (13-14) não se relaciona – pelo menos não abertamente – com a mulher ensinando, mas com a mulher aprendendo: a ênfase não está no que Eva disse ou fez, mas no fato de que ela foi enganada. Paulo exige que as mulheres, em contraste, aprendam de tal forma que não sejam enganadas. O γὰρ do 13, portanto, remete naturalmente a 11, apoiando não a injunção contra o ensino, mas a μανθανέτω ἐν πάσῃ ὑποταγῇ.
Assine para continuar lendo
Assine para acessar o restante do post e outros conteúdos exclusivos para assinantes.