Mulheres podem ensinar?

Por Ian Paul

Estou escrevendo um livreto Grove Biblical intitulado “Mulheres e autoridade: textos bíblicos importantes”, que visa explorar todos os textos-chave em 28 páginas! Com lançamento previsto para o final deste mês. Meu objetivo é abordar Gênesis 1, 2 e 3, Lucas 24, João 20, Atos 18, Romanos 16, 1 Coríntios 11, 1 Coríntios 14, Efésios 5 e 1 Timóteo 2.

Esta é a introdução à seção sobre 1 Timóteo 2. Embora seja geral, mesmo essas observações afetam significativamente a forma como lemos este importante texto. (E você gostou da imagem?!)

Este texto frequentemente está no centro do debate sobre o que o Novo Testamento (e em particular Paulo) diz sobre como homens e mulheres se relacionam no ministério. Às vezes, tem sido tratado como um teste decisivo para a ortodoxia em alguns círculos, mas, na verdade, quase todos os aspectos da passagem têm sido contestados, e a história da interpretação tem sido mais variada do que frequentemente se reconhece. Portanto, apesar de ser uma passagem curta, merece uma seção própria.

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Por que 1 Timóteo 2:8-15 não proíbe as mulheres de ensinar e ter autoridade na igreja?

Enquanto 1 Timóteo 2 continuar sendo usado para restringir as mulheres de cumprir seu chamado ao discipulado, continuaremos compartilhando bons estudos sobre esta passagem. A postagem “longa” de hoje é do professor de seminário Patrick Franklin.

Talvez o texto mais citado para restringir ou proibir as mulheres de exercer o ministério e a liderança na igreja seja 1 Timóteo 2:8-15.

8“Portanto, quero que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contendas. 9 Quero também que as mulheres se vistam modestamente, com decência e discrição, adornando-se não com penteados elaborados, nem com ouro, pérolas ou roupas caras, 10 mas com boas obras, como convém a mulheres que professam servir a Deus.

11 A mulher aprenda em silêncio e com toda a submissão. 12 Não permito que a mulher ensine nem assuma autoridade sobre o homem; ela deve estar em silêncio. 13 Pois Adão foi formado primeiro, depois Eva. 14 E Adão não foi enganado; foi a mulher que foi enganada e se tornou pecadora. 15 Mas as mulheres serão salvas dando à luz filhos, se permanecerem na fé, no amor e na santidade, com discrição.”

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Heresias antigas e um verbo grego estranho

Catherine C. Kroeger

Na primeira epístola de Paulo a Timóteo, bispo de Éfeso, há uma passagem que deixou a igreja de Jesus Cristo perplexa:

Quero, portanto, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem dúvida. Da mesma forma, que as mulheres se ataviem em traje modesto, com pudor e sobriedade; não com cabelos trançados, ou ouro, ou pérolas, ou trajes custosos; mas (como convém a mulheres que professam piedade) com boas obras. Que a mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. Mas eu não permito que a mulher ensine, nem usurpe autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Contudo, ela será salva dando à luz filhos, se permanecer na fé, na caridade e na santidade, com sobriedade (2:8-15).

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Traduzindo αθεντέω (authenteō) em 1 Timóteo 2:12a

No debate sobre mulheres no ministério, o verbo authenteō em 1 Tm 2:12 desempenhou um papel crucial.[1] Como resultado, uma infinidade de esforços acadêmicos visara descobrir o que exatamente o termo significava durante o tempo de Paulo e o que significava especificamente em 1 Tm 2:12.[2] Apesar desse trabalho árduo, ainda existe um desacordo considerável sobre o que o termo significa. Tanto os evangélicos igualitários quanto os complementaristas afirmam que a pesquisa é a seu favor. Para complicar as coisas, as traduções da Bíblia continuam a variar ao longo do termo e do fraseado do versículo (às vezes, versões mais recentes da mesma tradução).[3] Tudo isso leva os estudiosos a recuar e perguntar: o que a pesquisa realmente mostra? E mais importante, como os cristãos devem traduzir e entender o significado deste termo e versículo ao lerem regularmente suas Bíblias?[4]

O que as obras de referência dizem?

Estudantes da Bíblia naturalmente (e necessariamente) recorrem a dicionários e léxicos para descobrir o que uma determinada palavra significa. Mas, devido à natureza limitada da lexicografia e do esforço humano, o simples olhar para uma obra de referência pode enganar. É necessário, pelo menos, ampliar o escopo de seus recursos para evitar erros. Mesmo ao examinar várias versões do mesmo tipo de trabalho (por exemplo, léxicos, dicionários, etc.) pode revelar diferenças significativas e até inconsistências. Authenteō não é exceção, conforme demonstrado pelas seguintes entradas, reproduzidas aqui como aparecem em oito léxicos:

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1 Timóteo 2:8-15- Gordon Fee

Por Gordon Fee

Neste parágrafo Paulo continua suas instruções acerca de “orações”, iniciadas no v. 1. Mas agora o interesse se volta para o comportamento apropriado da parte de “quem ora”. Porém, por que esse interesse, e por que desta maneira? E por que um texto tão longo dedicado às mulheres, em comparação ao destinado aos homens? De novo, a solução relaciona-se aos falsos mestres. A palavra dirigida aos homens é uma reação óbvia às fábulas e controvérsias entre eles. A palavra dirigida às mulheres pode, portanto, supor-se estar relacionada a este conflito. Como, porém? A resposta está bem à mão — em 5:3-16 e em 2 Timóteo 3:5-9. E evidente da última passagem que os falsos mestres encontram melhor audiência entre algumas mulheres “néscias, carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; que aprendem sempre, mas nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”. De acordo com 1 Timóteo 5, entre essas mulheres estão algumas viúvas mais moças, do tipo que “vive em prazeres” (v. 6), tomaram-se “faladeiras e intrigantes”, falando o que não devem (v. 13), e agindo assim trazem descrédito ao evangelho (v. 14). Algumas delas, diz Paulo, “já se desviaram, indo após Satanás” (v. 15; cp. 2:14 e 4:2). Seu conselho ali é semelhante ao dado aqui. Elas devem casar-se (cp. 4:3), ter filhos (cp. 2:15), e cuidar de seus lares (5:14). Dentro desse contexto, tanto as instruções acerca de vestir-se com modéstia, acerca de não ensinar nem exercer autoridade sobre os homens, bem como a ilustração de Eva, que foi de modo semelhante enganada por Satanás, além da instrução final do v. 15, tudo isso faz sentido. Se qualquer destas instruções também se relaciona com a predominância de mulheres no culto local de Artemis (veja disc. sobre 1:3), é ponto discutível, mas certamente possível. 2:8 / Esta sentença vincula-se ao que a precede, pela conjunção oun (“pois”), não traduzida na NIV (talvez em virtude de ser entendida como transicional). “Pois”, diz Paulo, “enquanto tratamos do assunto, quando as pessoas se reúnem para orar, tenham certeza de que é para oração e não em ira nem contenda”. Isto é, a instrução não é que os homens devem orar, nem que somente os homens devem orar, nem ainda que devam fazê-lo com mãos levantadas, mas que, quando orarem, devem fazê-lo sem engajar-se em controvérsias. Isto deve ser assim em todo lugar, isto é, “por toda a parte onde os crentes se reúnem em Éfeso e ao redor de Éfeso” (as igrejas-lares). Levantar mãos santas enquanto se ora é a postura suposta para a oração, quer no judaísmo, quer no cristianismo primitivo (veja nota). A imagem é da pureza ritual, mãos limpas antes de orar, e a referência é a não serem “contaminadas” por ira nem contenda, os pecados peculiares dos falsos mestres. 2:9-10 / Paulo volta-se a seguir para as mulheres (sem o artigo definido, no grego, implicando um contexto mais amplo do que mera[1]mente esposas). A preocupação, antes de tudo, tem que ver com seus vestidos e comportamento. Não é fácil, da posição vantajosa em que nos encontramos, entender o motivo dessa preocupação, mas é provável que se relacione com tornarem-se elas “levianas contra Cristo” (5:11, ECA) e “levadas de várias concupiscências” (2 Timóteo 3:6). Há grande agregado de evidências, tanto helenísticas quanto judaicas, que fazem os “vestidos dispendiosos” das mulheres equivaler à leviandade sexual, ou à insubordinação conjugal (veja nota). Em verdade, para uma mulher casada apresentar-se em público dessa maneira equivalia à infidelidade marital (veja, p.e., Sentences of Sextus 513: “Uma esposa que gosta de adorno não é fiel”). Dado o estreito vínculo aqui entre quinquilharias (vv. 9-10) e a necessidade de aprender “com toda a submissão” (v. 11, ECA), o mais provável é que Paulo esteja considerando as ações de algumas mulheres de dentro desta mesma estrutura cultural geral (veja disc. sobre 2 Timóteo 3:6-7). Assim, as mulheres devem ataviar-se com traje decoroso, com sobriedade. Há inerente nesta última palavra o uso de “bom senso” na questão de vestir-se. Define o apóstolo mais especificamente que a mulher não deve usar tranças (lit., “cabelo frisado”; cp. 1 Pedro 3:3, e Juvenal, citado na nota), ou com ouro, ou pérolas (veja Juvenal) ou vestidos dispendiosos. Em verdade, as mulheres crentes devem “revestir-se” de coisas melhores — de boas obras, as quais mais adiante serão definidas como, entre outras coisas, criar filhos (5:10). O ponto em questão é que a “sã (1 Timóteo 2:8-15) 81 doutrina” (veja disc. sobre 1:10) tem que ver com a conduta que convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus, não a conduta imodesta ou indecente, característica de mulheres cujo intento é a sedução.

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Interpretando 1 Timóteo 2:8-15

 Por Craig Keener

Ninguém toma todos os escritos de Paulo literalmente. Estudiosos igualitários e não igualitários concordam que alguns dos escritos de Paulo são condicionados pela época e lugar em que ele viveu. Então, como distinguimos entre passagens que são específicas da situação e aquelas que devem ser aplicadas universalmente? Com relação a 1 Timóteo 2:8-15, os igualitaristas compartilham a mesma abordagem básica de interpretação: Reconhecemos que conhecer o contexto do primeiro século pode fazer uma diferença significativa na compreensão do texto bíblico.

A Questão da Interpretação

Quase todos os estudiosos não igualitários admitirão a relevância do contexto até certo ponto; todos reconhecem a utilidade do contexto cultural na interpretação bíblica. No entanto, a abordagem não igualitária ao contexto cultural simplesmente não é consistente. Por exemplo, eu comecei Paul, Women & Wives com um capítulo explicando a base cultural das coberturas de cabeça e os argumentos de Paulo em 1 Coríntios 11:2-17. Paulo usa um dos mesmos argumentos nesta passagem (a criação anterior de Adão) que ele usa em 1 Timóteo 2. Um escritor não igualitário citou com aprovação meu tratamento de 1 Coríntios 11:2-17 (pelo qual sou grato), reconhecendo que coberturas de cabeça não são um requisito transcultural. Mas ele então curiosamente passou a negar categoricamente que alguém pudesse ter uma abordagem semelhante a 1 Timóteo 2!

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